quinta-feira, 27 de março de 2008

Aparelhos eletrônicos e a saúde: Surto de um menino após a retirada de seu computador

dúvida assola os pais contemporâneos: qual o limite entre o saudável e prejudicial na forma como as crianças e adolescentes lidam com os jogos de computador? Muitos passam horas em frente à telinha, atirando em monstros ou construindo vidas virtuais, como nos famosos RPGs (Role-Playing Game, algo como jogo de interpretação de personagem).
Caio tem 15 anos e até pouco tempo lutava judô, saía com amigos e ia bem na escola. Até aí tudo igual a qualquer adolescente, que está descobrindo o mundo. Só que Caio descobriu um outro universo e não consegue se livrar, pelo contrário, o mundo virtual tomou conta da vida dele. Noites em claro, alimentação ruim e um único objetivo, conseguir passar as fases propostas pelo game. O garoto conta que o jogo era sua forma de sair do mundo, e se sentia bem com isso, mas em alguns momentos, confessa, o corpo não aguentava.“O jogo é muito bom, pois na minha vida toda eu sempre gostei de coisas fora da realidade, aí eu sempre usei o jogo para conseguir alimentar esta fome de diversão e aventura e quando eu fico sem parece que minha vida não tem sentido. Eu percebia que o meu corpo não aguentava. Eu tinha sono, eu queria dormir muito, mas eu pensava não posso. Quanto mais tempo eu jogo mais progresso eu faço. Aí eu não dormia”.
A mãe de Caio, a bibliotecária e professora Rosany Azeredo, disse que no final do ano passado deu um computador para o menino, porque ele foi bem na escola e tinha que ir até a casa da avó para ter acesso à internet. Com o passar do tempo ela percebeu que o adolescente ficava cada vez mais tempo em frente a tela e começou a se preocupar.
“Quando ele começou a querer deixar de sair no final de semana, os amigos ligavam e ele não saía, até tirar ele do computador a gente perdia a hora, e não queria estudar. Ele só podia usar o computador no final de semana, mas durante a semana ele não conseguia estudar só pensando no final de semana”, diz.
A mãe lembra que caio chegou a um extremo de ficar 46 horas em frente ao computador sem se alimentar, tomar banho ou dormir. Neste ponto, conta, percebeu que era hora de tomar uma atitude mais drástica e tirou o computador do menino. “Quando eu tirei o jogo ele não aguentou. Ele surtou, começou a quebrar a porta com socos, tivemos que chamar o Samu. No final ele acabou sendo internado. A primeira internação foi pela depressão de ficar sem o jogo, depois veio a abstinência, que ele ficou agressivo e precisou ser novamente internado”.
Hoje Caio está sem o computador mas ainda tem crises de abstinência. Depois de duas internações, teve que procurar um terapeuta e Rosany está pensando em buscar ajuda psiquiátrica, para amenizar as crises. Numa conversa por telefone, horas após a entrevista à equipe da redação Gazeta Rádios e Internet, Rosany afirmou, feliz, que pela primeira vez Caio disse que realmente precisava de ajuda. Um grande passo, segundo ela. “Pedir ajuda já é um sinal de que se quer melhorar, né?”, afirma feliz.Segundo a psicanalista Cláudia Pretti, que trabalha com crianças e adolescentes há mais de 20 anos, um dos primeiros alertas que os pais devem observar é quando as atividades normais do dia a dia vão mal, como escola, esportes e vida social. Hoje, continua, existe a mesma discussão em torno do computador que antes existiu em torno da televisão. Pode deixar sim, em doses pequenas. Só não é saudável deixar que isto tome conta da vida da criança.
Quanto à solução para este tipo de problema, Cláudia enfatiza que este é um trabalho que deve ser feito psicologicamente e familiarmente. Do ponto de vista psicológico, é preciso ver o processo desencadeador, o porquê da necessidade de fuga. Esta necessidade de fuga, diz Cláudia, é que tem que ser trabalhada com a família.
Fonte: Gazeta Online

Um comentário:

Katya disse...

Muito interessante a reportagem!!